quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Memórias de uma pau-rodado - parte I - Do mar para o rio



Calma! Quem ver o título acima e não for cuiabano - ou não morar em Cuiabá há tempo suficiente, como eu - pode até pensar mal de mim com esta expressão. Mas a denominação "pau-rodado" é dada pelos cuiabanos aos que chegam de fora. Que não são "povo" de nenhuma família conhecida daqui. É como um pau que roda com uma enchente e pára onde ela quiser, sem estar seguro em nada. Pelo menos foi assim que entendi quando um cuiabano de "tchapa e cruz" (do nascimento até a morte) - é, estes cuiabanos são mesmo cheios de expressões próprias que soam estranhas aos paus-rodados, mas que, depois se adequam ao nosso vocabulário e soam até com certa saudade ao coração de tudo o que fica quando vamos embora.
Agora que vou embora posso dizer que, as palavras que achei estranhas quando cheguei, agora juntam-se às milhares de lembranças boas e ruins desta terra e estas me marcaram à ferro. Por isso vão comigo pra sempre. Ah! E nem poderia ser diferente. Também levo de "lembrança" dois cuiabaninhos, os meus filhos: Vittória e Carlinhos.
Mas para explicar como cheguei até aqui... e cansei, tenho que começar do início já que, parece, minha odisséia por estas plagas eis, que chega ao final, quase totalmente feliz, mas que caminha para um recomeço imensamente novo e feliz.
Muita gente me pergunta, quando digo que sou de Santos, como vim parar tão longe do mar. Aliás, no ponto mais distante de todos os mares. Diga-se de passagem, Cuiabá fica no centro Geodésico da América do Sul. Desse jeito não ía dar certo mesmo. Lembram da música? "como pode um peixe vivo viver fora d´água fria?". E aos que dizem que peixe que quer viver vive em qualquer água digo mais, peixe de mar não vive em rio. Precisa do sal misturado com o sol e a brisa. Água doce é boa de beber, mas se beber demais porque o sol é de rachar a cabeça e o coração, deixa a gente com barriga, por isso fiquei com duas (meus cuiabaninhos que mencionei lá em cima).
Bem, o ano era 1994. Fim de curso de jornalismo e eu com o sonho de trabalhar no maior jornal da minha pequena e querida cidade. Para mim, um mundo imenso de respeitabilidade se abriria à minha frente só por eu trabalhar lá.
Afinal, meu irmão era gráfico deste jornal e só de falar que trabalhava lá, nas mais diversas situações, o "povo" respeitava.
Enfim, mandei currículo achando que minha 'vasta' experiência de "2" semanas como estagiária de uma assessoria de eventos de surf e meus textículos de faculdade fossem "impressionar" a galera do grande grupo A Tribuna (jornal e rádio).
Enfim, quando vi que a coisa não ía acontecer resolvi apostar em Sampa. Ainda apostando que o mercado gostaria de minha vontade de ser uma boa profissional me inscrevi numa seleção para trabalhar na editora Abril. Recebi uma carta deles e quase enfartei. Mas a correspondência era só pra agradecer o interesse e dizer que meu currículo ficaria em seus bancos de dados (ou a maneira gentil de falar lata de lixo) para o futuro (que até hoje não chegou).
Já me conformava em ser funcionária pública da prefeitura de Santos para o resto da vida quando meu professor da faculdade informou aos formandos daquele ano que Cuiabá não tinha nenhuma turma de jornalismo formada. Por isso tinha muitas vagas para os profissionais diplomados.
E enquanto eu pensava aonde raios ficava Cuiabá ele dizia que nessa terra tinha 2 jornais já consolidados (A Gazeta e o Diário de Cuiabá) e mais um recém-aberto (Folha do Estado) que parecia que ía vingar e se firmar no mercado. E que havia vagas para pessoas formadas. E o melhor: pagava o maior salário da América Latina! E melhor ainda: como a jornada era de 5 horas poderíamos ter 2 empregos (conheço gente que conseguiu até 3!). Enfim, bons tempos aqueles em que havia esperança. Pelo menos no meu coração.
Comecei a colocar na cabeça que precisava arriscar. Sair da casa de meus pais e viver meu sonho de morar sozinha com meus próprios recursos e com algo que eu amava desde criança que era escrever.
Com minha razão (se é que eu já tive um dia) eu pensava se íria dar certo sair de perto de minha família e ir para um lugar em que não conhecia ninguém. Mas como meu coração (que sempre falou mais alto e me fez sentir as maiores alegrias e também ter as quedas mais doídas) eu pensava: o que tenho a perder? Tenho um diploma, nenhum namorado e se não der certo sempre terei minha família!
(to be continued ou em bom cuiabanês "manhá cidinho tem más" = amanhã cedinho tem mais)

4 comentários:

gisele disse...

Dri, que delícia te ver escrevendo assim, eu mesma que conheço só um pouquinho da tua história adorei ler. Escreve mais, plis. bjs com mto carinho.

gisele disse...

Dri, que delícia te ler assim, mais leve. Nostalgia é melhor que raiva. Nessas horas, saturno é melhor que marte. bjus

gisele disse...

cadê a parte 2??

Anônimo disse...

kkkkkkkkkk...não sabia q fui pau-rodado um dia!!!!!!kkkkkkkkkkkk...nossaaaaaaaaaaa, qto tempo hein?!...ah, e fazia calor mesmooooooooo....de verdadeeeeeee!!!Aff!!!